Deputada Gleice Jane propõe projeto para o aproveitamento sustentável de madeiras submersas no Rio Paraná
Nesta quinta-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente, a deputada estadual de Mato Grosso do Sul, Gleice Jane (PT), concedeu entrevista ao jornalista Marcelo Nogueira, do site Notícias do Pantanal. Durante a conversa, a parlamentar destacou a importância de fortalecer políticas públicas voltadas à proteção do meio ambiente e à defesa dos direitos dos povos tradicionais.
A Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul passou a discutir um projeto pioneiro que busca o aproveitamento sustentável de madeiras submersas nos reservatórios hidrográficos do estado. A proposta, apresentada recentemente pela deputada autora, é resultado das constantes demandas de pescadores e comunidades ribeirinhas, principalmente da região do Rio Paraná, que têm relatado as graves consequências ambientais causadas pela decomposição de materiais orgânicos submersos.
Segundo a deputada, o projeto nasceu a partir do diálogo com as lideranças locais, em especial da Colônia Z10, que denunciaram a situação crítica enfrentada na região. “Eles relatavam constantemente que o rio estava secando, a pesca estava inviável e a qualidade da água piorando”, relatou. Sensibilizada, a parlamentar realizou duas visitas in loco ao local e constatou, com preocupação, a gravidade do cenário.
Durante as visitas, foram identificados diversos problemas, como a proliferação excessiva de algas e a formação de bancos de areia, que dificultam a navegação e a reprodução dos peixes. “Na piracema, os peixes entram nos berços — que são as matas laterais do rio — e, quando a água baixa, eles ficam presos e morrem, impedindo a reprodução e afetando todo o ecossistema”, explicou.
Outro fator agravante apontado foi a presença de grande quantidade de árvores e resíduos orgânicos submersos, oriundos da época da inundação provocada pela ampliação do reservatório. “Havia uma vida ali: árvores, residências, e tudo isso ficou submerso, em decomposição”, destacou a deputada. Segundo especialistas, como a doutora Celina, que acompanha a situação da área, essa decomposição libera metano, um gás de efeito estufa extremamente prejudicial, e compromete a qualidade da água.
O projeto propõe a retirada dessas madeiras submersas, com o objetivo de diminuir os impactos ambientais, melhorar a qualidade da água e favorecer a vida aquática. Além disso, busca reduzir problemas operacionais nas usinas hidrelétricas da região, que sofrem com a proliferação de mexilhões atraídos pelo material em decomposição.
A parlamentar ressalta que a iniciativa tem potencial para melhorar significativamente o equilíbrio ambiental e social do estado. “O meio ambiente volta a se reestabelecer, as comunidades podem voltar a pescar e a própria usina terá menos custos operacionais”, afirmou.
Sobre a tramitação, a deputada reconhece que haverá desafios. “Nós vamos ter que ter muito convencimento dentro do plenário. Se houver resistência, vamos trazer especialistas e órgãos governamentais para o debate técnico”, ponderou, destacando que o projeto já está embasado em estudos científicos e no trabalho de pesquisadores renomados.
Questionada sobre a possibilidade de levar o tema para a COP30, a deputada informou que ainda não há articulação direta com os organizadores, mas que está acompanhando o debate ambiental global e pretende apresentar o projeto como uma ação inovadora de Mato Grosso do Sul.
A deputada também destacou o papel fundamental da ciência na formulação de políticas públicas. “Não existe desenvolvimento econômico e social sem base na ciência. Precisamos valorizar e ouvir os pesquisadores, como a doutora Celina, que trouxe elementos importantes para essa proposta”, defendeu.
Por fim, a parlamentar reforçou a dimensão social do projeto. “Quando o rio perde sua vida, não são apenas os peixes que sofrem. Somos todos afetados. É uma questão ambiental, social e de saúde pública. A água que bebemos vem desses rios”, alertou.
O projeto de lei segue agora para análise nas comissões da Assembleia Legislativa e, posteriormente, será apreciado pelo plenário. A expectativa é de que a proposta gere um amplo debate sobre a relação entre desenvolvimento, meio ambiente e qualidade de vida no estado.