Caderno BColunistasGiovanni Dorival

É Vermelho-Brasa

O nosso coração, que bate cá no peito

Sob o refluxo pandego da bateria

O sangue que circula em nossas veias

Nas artérias estendidas dessas metrópoles

No ritmo da Sapucaí em carnaval

No compasso ao redor da fogueira

Que celebra São João e São Pedro

Em Campina Grande ou Ivinhema

No suor que escorre de nossa têmpora

Durante as horas de trabalho braçal

Nas manifestações que precedem

O banho de São João-Xangô

Nas águas túmidas e férteis do Paraguai

Rezas para o santo e para o orixá

Diversidade de um povo em comunhão

É vermelho, ah, é vermelho!

Esse riso branco que contrai as maçãs

Da moça em festa dançando a dança folclórica

O carimbó, a catira, a katchaka paraguaia

É vermelha a mão viril do camponês

Sob o rútilo esparso desse sol daqui

Quando empunha o bastião

No cortejo a cavalo dos Mateus

Celebrando através das décadas

A Festa do Divino no Corpus Christie

É vermelha a língua que sibila

De permeio aos lábios rubros

Num canto mavioso desses sertões

Sob a nênia sublime da viola-de-cocho

Vermelha ainda é a pele do ator

Que transpira sob a carga dramática

Na cena que se desenrola em êxtase

Nos palcos opíparos e labregos deste país

Vermelha é a pele da professorinha

Que caminha longes distâncias

Em busca do aluno perdido

Futuro e esperança da sociedade

E ainda são vermelhos esses olhos

Da mãe que pariu um rebento

Enchendo o mundo a seu redor de luz

Como também são vermelhos outros olhos

Da mãe inconsolável sob a desdita atroz

Do filho morto, de roldão

Menino de engenho, nascido na mansarda

Que obrigado, desde cedo

Ao trabalho nas carvoarias

A pele sempre nesse vermelho-brasa

Queimada, sol-a-sol, sem descanso

Sem jamais desfrutar, nessa terra úbere

Das riquezas de nossa cultura

E o homem pleno que ela produz

 

 

 

 

Extraído do livro “Sonhos Perdidos De Um País Vermelho-Brasa

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