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Inauguração do Centro Multiuso da Nação Terena – Aldeia Bananal em Aquidauana

Por Paulo Baltazar, professor indígena, tradutor da língua terena, mestre em Ciências Sociais/ Antropologia pela PUC/SP, graduando em Geografia pela UFGD.

O Território da Terra Indígena Taunay/Ipegue localizada no município de Aquidauana/MS possui uma população aproximadamente de 5.884 pessoas residentes em sete aldeias: Bananal, Ipegue, Água Branca, Lagoinha, Morrinho, Imbirussú e Colônia Nova, numa reserva indígena de superfície de 6.461, hectares. O território ficou diminuto pela quantidade de pessoas que moram e buscam a retirada da sustentabilidade para a sobrevivência familiar. Este território até a década de 1970 mantinha condições naturais para sobrevivência física e cultural dos Terena, pois a população era bem menor e os recursos naturais não sofria danos ambientais.

Com a chegada e ocupação do gado nas fazendas em torno da reserva indígena foi prejudicando as aldeias por meio dos córregos que tornaram intermitentes, comprometendo a sustentabilidade dos indígenas bem como a prática da pesca e caça dos animais silvestres. Hoje temos vários problemas sobre o território bastante fragilizada em canais de água devido as nascentes que estão precisando de recuperação com máxima urgência. Como consequência os córregos tornaram intermitentes e afetou lago e lagoas onde são considerados lugares históricos e de referências para aldeias na transmissão de conhecimentos tradicionais.

A comunidade indígena, desde os primórdios, tem uma forte relação com o meio ambiente, e por meio deste buscam a sua subsistência, cultivando a terra e, assim também, procuram manter a cultura viva, a fim de manter a continuidade da transmissão cultural de seus costumes, suas heranças, para as futuras gerações.

Neste longo contato com os colonizadores que tentaram implantar uma nova tradição e costume aos povos indígenas, a cultura europeia com a utilização de vestimentas, modelos de educação, religião e até mesmo a culinária, tornou a sociedade indígena muitas vezes dependente do estilo de vida da sociedade contemporânea, principalmente tornando-se uma sociedade consumista.

Nos dias atuais está sendo difícil continuar nessa nova “adaptação de vida” consumista que foi imposta pelos colonizadores, por isso buscam alternativas de sustentabilidade oferecida dentro do território indígena, bem como alguns aspectos culturais Terena que podem ser aproveitadas como meio de renda e ao mesmo tempo provitalizando ou salvando conhecimentos tradicionais que deixaram de ser praticadas por motivo da falta de matéria prima na sua confecção.

Pensando nestas possibilidades surgiu a ideia da construção de um centro que possa abrigar diversos tipos de atividades indígenas que visa buscar sustentabilidade onde propomos o nome como “Centro Multiuso da Nação Terena”, que tem por objetivo abrigar várias formas de atividades indígenas voltado para sustentabilidade.

Por meio da construção do “Centro Multiuso da Nação Terena” com rede de agua, energia elétrica e internet de fibra ótica que foram aprovados pelas lideranças tribais, o centro, abrigaria diversos tipos de oficinas, seminários, educação indígena, educação secular, saúde indígena, combate ao alcoolismo, tabagismo, direitos humanos, direito da criança e do adolescente, local de transmissão de conhecimentos tradicionais, sustentabilidade indígena de diversos tipos tais como: confecção de rapadura, produção de farinha de mandioca, cestaria, argila, tecelagem, madeira, valorização da dança feminina, dança masculino, tambor indígena, flauta terena, culinária terena, roupa tradicionais, artesanatos em geral, tear, culinária indígena, estampa com a iconografia terena, entre outros. O local tem muita importância também na Semana Cultural Indígena onde proporcionará lugar de eventos da aldeia entre outros. O Centro Multiuso da Nação Terena permitirá espaço comunitário para atender os agricultores indígenas, pequenos criadores de animais, apicultores, piscicultura, prática de manipulação de plantas medicinais e até um lugar de banco de sementes tradicionais. Pode até fomentar diversos tipos de parcerias entre a comunidade indígena e entidades de apoio permitindo conhecer lugares de comercialização dos produtos indígenas produzidos dentro da aldeia bananal para outras regiões com selo de certificação de origem de produção sustentável.

Outro componente alimentar do Terena é a rapadura de cana de açúcar que juntamente com a farinha de mandioca é consumida de forma liquida conhecida como “Yákupa”, por isso o duplo alimento caminha juntos a cana de açúcar e a farinha de mandioca são a base alimentar do Terena. Daí a importância do espaço de etnodesenvolvimento por meio de oficina de produção de derivados de cana de açúcar e mandioca para atender o consumo dos índios com possibilidade de comercio sustentável.

Outro importante tipo de sustentabilidade que os Terena estão adotando nos dias atuais é a prática da “apicultura” criação de abelhas. Já iniciaram com caixas de produção de mel nos moldes tradicionais, porém as caixas também acompanham a modernização para acomodar e melhorar a produção de mel, por isso os novos modelos de caixas atendem a necessidade e o conforto das abelhas na produção do mel, tornando-se necessário a aquisição de novas caixas como modelo a ser construída pelos indígenas.

A tecelagem seria um salvamento de conhecimentos tradicionais das mulheres que está em extinção, porque são poucas as mulheres idosas que ainda praticam esse trabalho dedicado as mulheres na cultura Terena. Antigamente muitas mulheres teciam redes de dormir, bolsas para mulheres, tapetes, marcadores de livros, faixas para o peão de fazenda utilizar na cintura para montaria de cavalo, utilizado também na cintura do indígena nos diversos tipos de trabalho pesado para dar segurança no quadril e na coluna da pessoa.

Por fim, os Terena sempre foram habilidosos no serviço de carpintaria e continuam sendo, antigamente faziam o engenho de cana de açúcar de madeira entalhada com suas engrenagens também de madeira, puxada por bois ou cavalos. Hoje continuam fazendo móveis domésticos como mesa, banco, cadeiras, coberturas de casas entre outros.

A construção da “Centro Multiuso da Nação Terena” na Aldeia Bananal é para abrigar todos pequenos projetos elencadas que são prioritários neste momento para alavancar a sustentabilidade indígena e a tecelagem seria um salvamento da prática de conhecimentos tradicionais que aos poucos está acabando uma vez que os detentores dos conhecimentos estão falecendo que são as mulheres idosas.

Construção

O formato da construção remete uma pegada de “EMA” (Rhea americana) “Kipâe” ave endêmica da região do cerrado e pantanal com forte representação mítica cultural para os Terena onde são utilizadas as suas penas para dança dos homens que possui vários significados em diversos momentos da dança que lembram da participação na Guerra da Tríplice Aliança, da fartura, das festas tradicionais e saudação a natureza; a nascente; ponte; o norte do vento e o sul do frio das massas polares.

As cores remetem as duas metades endogâmicas Terena, o “Sukrikiano” com cores vermelho, branco e preto; “Xumono” que representado nas cores branco, verde e preto; na parede externa remete as cores da iconografia Terena muito utilizada pelas mulheres na cerâmica indígena.

Parceiros

O Projeto de construção que foi desenvolvido foi submetido a seleção de projetos do consulado da República Tcheca em São Paulo e do Consulado Honorário da República Tcheca em Batayporã, por meio MVDr. Evandro Trachta e Silva, Ph.D. Consul Honorário, tivemos a felicidade de ser o vencedor na proposta apresentada, ao Consulado Geral em São Paulo e com isso, recebeu apoio por meio de recursos do Ministério das Relações Exteriores da República Tcheca para a construção do Centro de Multiuso da Nação Terena, construída e inaugurada no dia 11 de dezembro de 2021 na aldeia Bananal, no município de Aquidauana/MS.

A aquisição de onze computadores de mesa, ventilador, bebedouro, impressora laser e mesa de escritório é fruto da emenda parlamentar do Deputado Felipe Orro, onde também recebeu homenagem com uma placa de gratidão pelo serviço prestado ao povo Terena.

A internet foi instalada pela Empresa Conexão Turbo Net, a pedido do Cacique Celio Francelino Fialho, atualmente cacique da aldeia Bananal.

As lideranças indígenas que estiveram envolvidas direta ou indiretamente na construção, na idealização, sonhos e realização efetiva da construção do Centro de Multiuso da Nação Terena.

Homenagem póstuma

Por fim as lideranças em reunião escolheram por unanimidade o nome do Centro de Multiuso da Nação Terena – Dr. Roberto Moaccar Orro, em memória do ex deputado estadual, que muito contribuiu ao povo Terena.

As fotos são da inauguração do Centro de Multiuso da Nação Terena que aconteceu no dia 11 de dezembro de 2021, com a presença de toda liderança tribal, o evento foi comandado pelo Celio Francelino Fialho, Cacique da aldeia Bananal, diversas autoridades não indígena, com a participação do Deputado Felipe Orro que fez a entrega dos computadores para o Centro de Multiuso da Nação Terena que será utilizado pelos alunos e comunidade em geral, uma vez que os computadores com a internet é primordial para os dias de pandemia.

 

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