Faltando dois meses do prazo para final candidatura, nomes à Presidência estão definidos
O prazo final para que os partidos políticos e as federações peçam o registro de seus candidatos à Presidência da República se encerra em 15 de agosto. A pouco menos de dois meses da data limite, os nomes que devem disputar os votos dos brasileiros em outubro já estão definidos.
Analistas políticos apontam que pouco deve mudar até lá, e que a composição agora é em torno dos candidatos a vice-presidente e das alianças estaduais, que não estão seguindo a lógica dos alinhamentos nacionais.
Os nomes começaram a ser discutidos ainda em abril do ano passado, depois que uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as condenações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ele recuperou os direitos políticos. Desde então, o processo eleitoral já é discutido, com a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro (PL) e ele se enfrentarem pela primeira vez nas urnas.
No ano passado, mais de dez nomes eram vistos como possíveis para encabeçar a disputa e aglutinar mais legendas, dentre eles o do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e ex-juiz federal Sergio Moro; o do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta; os dos ex-governadores de São Paulo e Rio Grande do Sul, João Doria e Eduardo Leite, ambos do PSDB; o do senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), na época do Cidadania, e até o apresentador José Luiz Datena (PSC-SP).
Todos foram caindo e, ao fim, o nome que se firmou foi o da senadora Simone Tebet (MDB-MS). Após muita conversa, e a um custo político alto ao PSDB, como a saída de João Doria da vida pública, a Executiva Nacional da legenda decidiu apoiar Tebet. A decisão envolveu arranjos locais, como o apoio do MDB à candidatura do governador de SP, Rodrigo Garcia (PSDB). O Cidadania, que está junto com o PSDB em uma federação, também apoiará a candidatura de Tebet.
Nos estados, no entanto, a senadora está longe de ser uma unanimidade, nem entre emedebistas, tampouco entre tucanos. Vice-presidente do MDB, o senador Confúcio Moura (RO) admite que não será possível unificar a legenda, mas acredita que 90% do partido estará com a senadora na eleição. Moura pontuou que em alguns estados, o MDB é compromissado com outros candidatos, e citou os casos do ex-presidente do Senado Eunício Oliveira e do senador Renan Calheiros (AL), ambos críticos da candidatura de Tebet.
“O MDB sempre foi um partido muito difícil de ter unidade. O próprio [Henrique] Meirelles, por exemplo, grande parte do partido não o apoiou. Mas eu espero que mesmo assim, com essa divergência, a gente tenha a maioria do partido. Isso é importante, porque o partido tem capilaridade”, afirmou.
Integrante da Executiva Nacional do PSDB, o senador Izalci Lucas (DF) explicou que Tebet deve ter apoio nos palanques estaduais dos tucanos à medida que crescer nas pesquisas.
“Lembro que em 2018, Geraldo Alckmin teve apoio de um monte de partido, mas depois foi caindo, e no fim tinha pouca gente com ele. É preciso ter condição para que haja apoio integral. A federação vai trabalhar isso. O próprio MDB era para ser o primeiro que deveria buscar um grande entendimento. Mas se ela não crescer nada, dificilmente terá apoio do próprio partido dela. Se ela se mostrar viável, a adesão é quase que natural”, assegurou.
Mesmo com todas as discussões em torno de uma chamada “terceira via”, quem ocupa a terceira posição nas pesquisas é Ciro Gomes (PDT). Esta é a quarta tentativa de Ciro, que segue isolado na disputa, sem alianças partidárias, e com o apoio apenas de sua legenda. Em 2018, ele terminou o primeiro turno em terceira posição, e as pesquisas o mostram no mesmo lugar neste ano.
Em encontro do PDT nesta semana, o deputado federal André Figueiredo (CE), vice-presidente da Executiva Nacional, reforçou o argumento de que parte significativa do eleitorado não quer os dois candidatos que estão na dianteira nas pesquisas. “Aí dizem que o Ciro não tem chance; aí vem a imprensa e diz: ‘ah, mas a terceira via é a Simone Tebet’. Simone Tebet é a terceira via com 2%? E a única via que temos para evitar a polarização, que é o Ciro, não é visto como um caminho alternativo?”, questionou.
Cenário definido
O analista político André César ressalta que, quando Lula recuperou os direitos políticos, em abril do ano passado, já foi possível ter uma perspectiva de como seria a disputa presidencial. No fim de 2021, havia uma lista extensa de nomes que tentavam encabeçar a chamada terceira via, mas todos sem competitividade. Por fim, sem espaço junto ao eleitorado, nenhum deles se materializou com força política, segundo o pesquisador.
“Começou a afunilar e chegou num ponto que não tem como avançar mais. O ajuste geral está feito. O que falta é o ajuste fino, a questão dos estados”, explica. Segundo o analista, a eleição presidencial de 2018 foi diferente, quando o cenário se decidiu mais tarde. Neste, conforme pontuou, a polarização já era esperada. César pontua que mesmo em um partido que lançou candidata, como o MDB, a sigla se vê dividida entre Bolsonaro e Lula, com diversos apoiadores alinhados com algum dos dois nomes. “Vai chegar na eleição rachado”, diz.
Melillo Dinis, também analista político, explica que a polarização deste ano gerou uma tendência de se ter a definição do eleitor mais cedo. “Esse excesso de disputa tem antecipado a decisão do eleitor. É muito pouco provável que uma terceira via consiga romper a barreira da polarização”, afirma.
Dinis pontuou que, em 2018, as candidaturas não estavam tão definidas, e ainda havia a hipótese de Lula disputar. “Havia uma incerteza, e Bolsonaro não era essa potência. Ele foi crescer no fim de junho. Nós só fomos ter um acirramento depois de agosto daquele ano, porque havia muita negociação”, lembra.
O analista diz que é preciso olhar para o fenômeno de eleitor e “rejeitor”. “O eleitor de 2022 vai escolher o menor pior para evitar aquele que ele odeia. Essa polarização obrigou os nomes a se antecipar”, avalia.
Cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, Marco Antônio Carvalho Teixeira diz que essa disputa e a de 2018 se diferem de eleições anteriores, porque no passado os quadros eram mais estáveis, com uma definição muito clara entre PT e PSDB, e as grandes alianças eram sempre em torno dos dois, sem divisões internas.
“O que temos agora é o Bolsonaro na figura de um outsider, acima dos partidos, e isso embola o jogo em vários lugares”, afirma. Os alinhamentos nacionais, segundo o professor, não vão necessariamente ditar os alinhamentos regionais.
Fonte: R7