Câmara Municipal discute a saúde mental dos servidores da educação
Cerca de 10% dos educadores da Rede Municipal de Educação sofrem com alguma doença
Nesta segunda-feira (24) a Câmara Municipal de Campo Grande viabilizou a audiência “Saúde Mental: um desafio na educação”, promovida pelo vereador Juari Lopes Pinto (PSDB).
No evento, contou com a participação dos membros da comissão de educação, os vereadores Riverton Francisco de Souza (PSD) e Ronilço Cruz de Oliveira (PODEMOS), o secretário da Secretaria Municipal de Educação (Semed), Lucas Henrique Bitencourt de Souza, o presidente da ACP (Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública), Gilvano Kunzler Bronzoni e especialistas na área da saúde e profissionais da educação.
Na ocasião solene, o professor Juari começou sua fala sobre o reflexo da pós-pandemia no trabalho e na saúde dos educadores da REME (Rede Municipal de Ensino) de Campo Grande (MS), ressaltando que a Covid-19 não afetou apenas os alunos, como também todos os servidores da educação, especialmente os professores. Ele apresentou dados de uma pesquisa realizada pela Universidade de Santa Maria (UFSM), sobre os impactos da pandemia em relação à atuação dos educadores e a necessidade de um espaço de conversa para que os mesmos falem a respeito de suas dificuldades.
O parlamentar ressaltou que os problemas tradicionais que a categoria sempre enfrentou, como a privação de reconhecimento, excesso de trabalho, esgotamento emocional, falta de infraestrutura e salários baixos, teve um novo acréscimo, à precariedade na saúde mental dos servidores. Segundo o legislativo é preciso valorizar os professores. “A valorização dos profissionais da educação é o caminho, não podem focar apenas na aprendizagem, é preciso que o professor fale sobre seus sentimentos, por isso, é importante a audiência, democratizar o debate”, pontuou o presidente da comissão de educação da Câmara.
Já o psicólogo e vereador Ronilço Cruz, ressaltou a importância de “cuidar de quem cuida”, deixando claro que os professores não estavam preparados para as aulas em home office, lidar com a exposição de seus lares e familiares, além da carga mental que foi atribuída aos servidores. O legislador defendeu também a presença de psicólogos e assistentes sociais na rede municipal de educação, com também melhorar o atendimento prestado no SUS (Sistema único de Saúde) e nos CRAS (Centro de Referência de Assistência Social).
Ronilço salientou a importância da Lei 13.935 de 2019, seja aplicada de fato, que dispõe a prestação de serviços de psicologia e de serviço social nas redes públicas de educação básica. Ele termina sua fala dizendo que é preciso cuidar do corpo da escola evitando problemas que possam afetar a saúde mental dos profissionais.
Enquanto o vereador Riverton trouxe dados alarmantes dos índices de atestados médicos apresentados por professores durante a pandemia. Foi detectado que nos documentos apresentados, a maioria era de doenças relacionadas à saúde mental, como também das doenças musculares pelo trabalho repetitivo dos servidores. Em janeiro de 2022, foram 429 licenças médicas, em março do mesmo ano, o número triplicou para 1.451.
Atualmente, a REME conta com 5.987 professores efetivos. Desse montante, 584 profissionais estão em situação de readaptação, o que corresponde a 10% dos servidores que estão tratando alguma doença. O parlamentar encerra sua fala sugerindo a criação de uma comissão permanente de saúde dentro da Semed. “É preciso fazer uma comissão para detectar o que está causando os índices altos. Que a gente possa cuidar do servidor antes que ele fique doente, pois, depois que fica é muito difícil ele se recuperar”, analisou.
Complementa a fala do colega, o vereador Dr.Victor Rocha (PP) exemplificando as principais Cids (classificação internacional de doenças) para o afastamento do trabalho que estão relacionadas a transtornos mentais como depressão, ansiedade e estresse, sendo consideradas as doenças do novo milênio.
O presidente da ACP, Gilvano Kunzler Bronzoni, ressaltou os problemas estruturais que os profissionais da educação que vem enfrentando fazem com que em uma mesma escola tenha 20 atestados no mesmo dia. O professor se comprometeu a realizar uma pesquisa com os educadores sobre a saúde mental em parceria com a UFMS e UEMS para levantar os fatores que fazem os servidores adoecerem.
A fala mais esperada da noite foi do secretário da Semed, Luciano que afirmou que a saúde mental dos servidores é uma preocupação da entidade. Ressaltou que a Base Nacional Comum Curricular enfatiza o protagonismo dos alunos, mas peca em valorizar quem é o responsável pela formação integral dos educandos, os educadores. Admite que na rede existem apenas 14 psicólogos trabalhando no programa “Valorização da Vida”, ação que atende alunos, familiares, professores e trabalhadores da educação.
A audiência foi encerrada com propostas de melhoramento do acolhimento das escolas e Emeis (Escolas Municipais de Educação Infantil). Em relação aos professores readaptados serem alocados em cargos em que se sintam úteis. Realizar uma pesquisa sobre a saúde mental dos professores, ampliar os espaços de escuta dos servidores e encaminhar um ofício para a prefeita, Adriane Lopes, para que ser cumprida a Lei 13.935-19, que institui psicólogos e assistentes sociais nas redes públicas de ensino.