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Devanir Ferreira e o assistencialismo em MS

Empresário divide história e reflete sobre a Filantropia no estado

Nascido em Malu, no estado do Paraná, o empresário Devanir Ferreira de Oliveira veio criar raízes na capital de Mato Grosso do Sul em 1989, aos 17 anos, após um breve período residindo em Rondonópolis no ano de 1985.

Em 1997 se casou com Clarice Giovani e hoje é pai da advogada, Lethicia (26); da acadêmica de Veterinária, Raphaela (23); e, do acadêmico de Engenharia Civil, João Victor (22).

Sem perder de vista os exemplos de caridade que recebeu do pai, Devanir tem uma longa história de assistência a pessoas em situação de vulnerabilidade. Durante o pleito de 2020, o empresário concorreu a vaga de vereador pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e tornou-se suplente vereador, com 533 votos, na Câmara Municipal de Campo Grande.

Foto: arquivo pessoal de Devanir Ferreira

O resultado das urnas, entretanto, parece não haver desanimado o filantropo que segue sua jornada pensando e atuando na área do assistencialismo conforme expõe nesta entrevista.

Giovanni Dorival: Olá, Devanir!

Devanir Ferreira: Oi, Giovanni, vamos a entrevista?

Giovanni Dorival: Perfeito. Para começar, gostaria que me falasse como iniciou seu trabalho assistencial.

Devanir Ferreira: Já vem de família! Crescemos vendo, meu pai fazer caridade. Ele recolhia mendigos na rua trazia para dentro de casa dava banho roupa limpa e comida. Muitas vezes deixava dormir em casa quando eram no inverno no Paraná onde morávamos, fazia muito frio com inverno rigoroso. É lógico que isso hoje não faria colocar estranhos dentro de casa, mas naquela época as coisas eram diferentes. Cidade pequena de interior.

Giovanni Dorival: Olha! Que interessante!

Devanir Ferreira: sim!

Giovanni Dorival: O que te motivou foi essa vivência?

Devanir Ferreira: Todos nós, irmãos, temos um pouco do nosso pai. Não sei te dizer! Mas é tão natural! Não tem explicação. Vem de dentro para fora, muitas vezes vejo um mendigo com fome vou lá, compro algo para comer e divido só para conversar um pouco com eles.

Giovanni Dorival: Quantos projetos assistenciais já participou?

Devanir Ferreira: de muitos! O último foi para 3 GCM, Guarda Civil Municipal. Um relacionado ao câncer, outro no caso de uma mulher embriagada que bateu na viatura e um deles fraturou a quinta vértebra. E, um outro não me lembro bem, mas foram para os três. Tudo organizado por mim. Um evento para 750 pessoas onde tudo me foi doado.

Giovanni Dorival: Pode falar sobre eles? Como era e de que forma entrou em cada um?

Devanir Ferreira: bom tenho muitos amigos na guarda municipal que sabem dos meus trabalhos. Vieram até mim e pediram ajuda. É lógico não disse ‘sim’ logo de cara, pois é uma responsabilidade muito grande. Pensei por uns dias, e os chamei em casa. Disse que faria, mas iria delegar funções. Do tipo, um para ficar com o financeiro; outro para logística, outros para ajudar no dia e assim por diante. Os convites dividi entre as sete bases.

Giovanni Dorival: E o que foi realizado a partir daí?

Devanir Ferreira: A partir daí eu comecei a colocar em andamento a casa de acolhimento para mulheres que sofrem de abuso sexual e violência doméstica. Mas tive que interromper. Adiar por enquanto. O local onde seria a casa, deixei para o vereador Papy. Lá será um local onde irão trabalhar com crianças e adolescentes.

Giovanni Dorival: Por qual motivo teve de interromper o projeto?

Devanir Ferreira: É bem complexo! Sem uma boa parceria ficaria algo incerto e eu não quis correr o risco. Sou muito intenso as vezes.

Giovanni Dorival: Qual a maior dificuldade nos trabalhos sociais?

Devanir Ferreira: Eu nunca vi dificuldades no que eu faço, até mesmo que tem muitas pessoas que querem ajudar e não sabe como. Tento muitas das vezes orientar de que forma se pode ajudar, são tantas as áreas que se não tiver foco se perde no caminho. Desde crianças até idosos, são um leque de desafios.

Giovanni Dorival: Quais são as áreas assistenciais que você mais tem atuado?

Devanir Ferreira: Gosto muito do terceiro setor, é onde se encontram os mais vulneráveis.

Giovanni Dorival: O que seria o terceiro setor?

Devanir Ferreira: idosos! Terceiro setor seria algo primordial para mim, pois todos nós um dia ficaremos idosos e a política pública tem que amadurecer muito nessa área.

Giovanni Dorival: Realmente. Como é o trabalho com acamados?

Devanir Ferreira: Complexo e muito (risos). Se você não saber como lidar com um idoso acamado pode-se machucar, tipo um mal jeito na coluna. Já começa por aí. E, depende muito de cada situação.

Giovanni Dorival: Entendo. Você atende pessoalmente a esse público?

Devanir Ferreira: Sim! Minha maior contribuição é estar perto e orientando sobre como proceder. Depois, ajudo com fraldas, cadeira de banho, cadeira de rodas e até camas hospitalares. Até mesmo onde o idoso acamado deve ficar, pois é fundamental que ele esteja sempre onde tem pessoas e nunca no quarto, pois, ficaria jogado muitas das vezes. O idoso tem que se sentir amado e não um fardo.

Giovanni Dorival: O que é necessário para a sociedade e as instituições atender as demandas do trabalho assistencial, hoje?

Devanir Ferreira: Começar pelas escolas! A importância de um bom envelhecimento, a educação para mim é muito importante. Saber ouvir nossos idosos nos traz discernimento de como nos comportamos perante a sociedade. Amor ao próximo tem que vir de forma natural, com isso muito dos problemas irá se resolver.

Giovanni Dorival: E no âmbito do setor público?

Devanir Ferreira: O poder público tem uma boa contribuição, porém são os que estão à frente que muitas das vezes deixam a desejar. Falta muito para melhorar.

Giovanni Dorival: Pode dar um exemplo de um trabalho que, pela sua experiência, o setor público poderia realizar de maneira mais eficiente?

Devanir Ferreira: O poder público deveria contratar mais pessoas qualificadas e encaminha para que, tempo em tempo, esses funcionários façam reciclagem. Fiscalizar de forma intensa as ONGs e destinar recursos para aquelas que melhor trabalham. Exemplo é o asilo São João Bosco, que já está quase completando 100 anos. Lá temos um quadro de funcionários muito dedicados, mas, mesmo assim teria que estar em permanente vigilância pois o ser humano é passivo de erros. Minha orientação sempre foi: ‘se tem problemas em casa, então deixe lá ou não venha trabalhar’.

Foto: arquivo pessoal Devanir Ferreira

Giovanni Dorival: Entendi. Como se envolveu com a assistência no asilo João Bosco?

Devanir Ferreira: Comecei a participar no asilo São João Bosco no final de 1989, a convite do senhor João Nogueira Vieira. Até mesmo, porque morava a poucas quadras dali. E, conheci as irmãs Passionitas que ali moravam. São freiras que ajudavam a cuidar dos idosos. Na época chegamos a ter mais de 180 internos, entre homens e mulheres. Vi o quanto ali era necessário ajudar e fiquei como voluntário durante 30 anos. Mas, também, sempre ajudando famílias carentes que tinham seus idosos acamados.

Giovanni Dorival: Quais as maiores dificuldades da instituição?

Devanir Ferreira: Financeiro! Falando, aqui, ainda do asilo São João Bosco. É matar um leão todos os dias. Tem recursos públicos, mas não é o suficiente. Por isso a importância da ajuda da comunidade. Eventos como, por exemplo, festas, que são pelo menos 3 vezes ao ano e o setor de arrecadação por meio de contatos telefônicos.

Giovanni Dorival: Por que é tão difícil resolver essa questão do financeiro em assistencialismo junto ao poder público?

Devanir Ferreira: Pode ser por conta da falta de interesse daqueles que poderiam estar fazendo. Nossos políticos muitas das vezes olham se aquilo vai dar visibilidade ou não. É como decidir entre a rede de esgoto e asfalto. Com certeza o asfalto traz mais visibilidade.

Giovanni Dorival: Em alguns países, como nos Estados Unidos, é comum ver a filantropia ser assumida por grandes empresas privadas e famílias milionárias. Você percebe essa iniciativa aqui?

Devanir Ferreira: Aqui no Brasil quem mais se importa são as igrejas e uma parcela muito pequena da sociedade. Temos sim, empresários que ajudam, mas se fossem destinadas multas aplicadas em grandes empresas, com certeza melhoraria em muito. Essas multas que, às vezes, são aplicadas em empresas, onde os valores são gigantescos, seria bem-vindo. Mesmo que fosse uma porcentagem.

Giovanni Dorival: Essa pequena parcela da sociedade que se envolve, você diria que são majoritariamente de pessoas mais humildes economicamente?

Devanir Ferreira: Sim, com certeza! São pessoas que doam todo mês entre R$5,00 reais a R$20,00 reais. Muitas fazem a compra do mês e já reserva uma parcela para doação, porque eles sabem o quanto é difícil.

Giovanni Dorival: Na sua opinião, por que as pessoas de situação econômica mais humildes se envolvem mais?

Devanir Ferreira: Bom, no meu ver as pessoas que tiveram uma vida difícil sabem o quanto é importante ajudar quando podem. Um pouco diferente de quem não tem dificuldade financeira. As realidades são diferentes. Pessoas que tem um poder aquisitivo bom e ajudam, é porque já vem de berço. Dão continuidade naquilo que seus avôs faziam ou os pais

Giovanni Dorival: Compreendo. Você falou a pouco que também realiza trabalho junto a família de acamados. Como é?

Devanir Ferreira: Geralmente me ligam e falam das dificuldades que tem. Aí vou conhecer a família e assim traço metas de como ajudar. Se há necessidade de envolver outras pessoas ou não.

Giovanni Dorival: Tem uma ideia de quantas famílias já atendeu nessas condições?

Devanir Ferreira: Nossa perdi as contas, não ligo para isso. O importante é saber que você fez a diferença, nem que seja por algum momento na vida da pessoa.

Giovanni Dorival: E quanto aos abandonados. Como é trabalhar junto a idosos muitas vezes esquecidos pela própria família?

Devanir Ferreira: Muito triste! Mas isso acontece de forma covarde, em muitas famílias que querem usar o pouco da aposentadoria do idoso e, se não dá, eles acabam sendo expulsos de casa. Outros, saem de casa porque acabam encontrando mais conforto fora do que dentro da própria família.

Giovanni Dorival: Esse tipo de abandono é considerado crime. Você já teve de lidar com um quadro de denúncia? Como foi?

Devanir Ferreira Sim! Muitas vezes. Abandono de incapaz é crime previsto em lei. Já fui na delegacia ser testemunha de uma filha que deixou sua mãe por algumas horas sozinha na cama. A vizinha fez a denúncia, mas eu sabia que ela cuidava muito bem da mãe. Foi tudo resolvido, porém, o delegado disse que mesmo que tenha que sair por alguns minutos tem que deixar alguém cuidando. A lei é dura neste ponto. Por isso sempre digo: ‘não tenha vizinhos inimigos’. Quando se tem um idoso em casa, ele pode te prejudicar.

Foto: arquivo pessoal Devanir Ferreira

Giovanni Dorival: Entendi. Você também se envolveu com um projeto de horta. Como foi?

Devanir Ferreira: Hortas urbanas. Foi uma experiência muito boa, mas teve suas limitações.

Giovanni Dorival: Por que foi muita e por que teve limitações?

Devanir Ferreira: Bom, quando se tem um projeto e não tem um planejamento, não vai dar certo mesmo. As hortas urbanas não são diferentes. Ajudei a construir mais de 200 hortas urbanas em Campo Grande. Hoje não temos muito, a grande maioria acabou por conta do clima e também pela dificuldade de vender os produtos.

Giovanni Dorival: Qual era o objetivo do projeto?

Devanir Ferreira: Trazer renda familiar! Esse sempre foi objetivo principal.

Giovanni Dorival: Esse trabalho poderia ser retomado com correção dos pontos que falharam?

Devanir Ferreira: Sim, com certeza! Teria tudo para dar certo! Mas tem que ter contribuição do poder público.

Giovanni Dorival: As hortaliças eram doadas a famílias da comunidade ou só havia a venda?

Devanir Ferreira: O objetivo era qualificar cada família que se escrevesse no programa. Dávamos equipamentos agrícolas, como por exemplo, trator para fazer os canteiros, mudas e assistência técnica. Porém, o que se produzia era vendido e não separava para repor. O poder público não pode arcar com tudo o tempo todo. Se tivéssemos uma parceria de compra, onde tudo que se produziu fosse consumido nas escolas e hospitais, daria certo.

Giovanni Dorival: Há um tempo atrás existia um programa do governo PT onde produções da agricultura familiar eram inseridas nas escolas. Seria esse tipo de programa, que você acredita necessário para que o projeto vingue?

Devanir Ferreira: Esse é o caminho! Porque quando você sabe que tem um lugar, que será entregue aquilo que você produziu e não vai ter que se preocupar em ter que sair do local para vender já é um grande ganho. Tipo um caso amarrado.

Foto: arquivo pessoal Devanir Ferreira

Giovanni Dorival: Você está preparando algum evento de arrecadação no momento? Qual?

Devanir Ferreira: Não! No momento estou preparando em Jaraguari, minhas ações. Hoje mais pontuais. Acho que será melhor!

Giovanni Dorival: Que ações seriam?

Devanir Ferreira: Vamos inaugurar, dentro de alguns dias, um ponto de identificação de documentos. As pessoas não mais precisam vir a Campo Grande tirar documentos. Também está em fase de conclusão o REURB, vamos regularizar áreas fundiárias que não tem documento. A AAMIS, Associação dos Amigos da Saúde, também estou levando para lá. Entre outras coisas.

Giovanni Dorival: E quanto a Regularização Fundiária Urbana, a REURB, em Jaraguari?

Devanir Ferreira: A REURB vai trazer mais economia para o município. Os proprietários terão documentos para vender suas áreas com valor agregado e até mesmo deixar como garantia por um empréstimo.

Giovanni Dorival: Entendi. No início da entrevista, você relatou que tudo começou com o exemplo de seu pai no estado do Paraná? O Devanir, hoje é sul-mato-grossense?

Devanir Ferreira: Sim! Encontrei aqui nessas terras uma oportunidade. Hoje tenho uma família, amigos. Estou de certa forma enraizado aqui.

Giovanni Dorival: O que o MS tem de bom e de ruim na área da assistência?

Devanir Ferreira: Como posso te dize? (Riso). Mato Grosso do Sul é uma terra de várias culturas, temos de tudo aqui. Muitos abraçam as causas e outros ficam alheios. Isso faz parte do crescimento.

Giovanni Dorival: O que falta para o estado ter uma melhor participação e política de assistência social?

Devanir Ferreira: Ter representantes comprometidos!

Giovanni Dorival: Essa questão e a vida em prol das pessoas necessitadas foram o motivo de ter se candidatado a vereador?

Devanir Ferreira: foi um dos motivos vai muito além disso!

Giovanni Dorival: Pode me falar sobre com mais detalhes?

Devanir Ferreira: Não se pode fazer tudo sozinho, tem que a ver uma participação mais atuante da sociedade e dos políticos. Hoje tenho a certeza que sem a política, nada se faz! Só posso realmente ajudar criando projetos e colocando em prática com uma boa fiscalização. Construir uma base sólida onde as pessoas possam acreditar. Todas as políticas públicas têm que ter um fundamento. A partir de ouvir a sociedade e colocar em prática. Temos que acreditar, que possamos fazer a diferença. Temos que aprender escolher melhor nossos representantes. Assim com certeza as coisas começam a melhorar.

Foto: arquivo pessoal Devanir Ferreira

Giovanni Dorival: De forma especifica, o que você acredita que poderia fazer como parlamentar eleito que não pode como missionário beneficente?

Devanir Ferreira: fazer com que se cumpra! Temos tantas leis já existentes, não precisamos de mais. Basta fiscalizar e botar em prática.

Giovanni Dorival: Quais os projetos para o futuro? Pretende se candidatar novamente?

Devanir Ferreira: Estou estudando essa possibilidade, mas só o futuro vai decidir. No momento procuro ajudar! Mesmo de forma limitada, mas cada ação tem que ter sua conclusão. Não posso começar algo e não terminar

Giovanni Dorival: Compreendo. Quem é e de onde saiu essa pessoa envolvida com assistência comunitária chamada Devanir Ferreira?

Devanir Ferreira: Sou Devanir Ferreira que veio de uma família de poucos recursos, mas de uma educação sem igual: “amar ao próximo como a ti mesmo”.

Giovanni Dorival: Algo mais?

Devanir Ferreira: Acho que está bom! E, você, que achou?

Giovanni Dorival: Você tem uma bela jornada!

Devanir Ferreira: Não sei se é bom. Nunca gostei de falar e mostrar minhas ações sociais. Não gosto de expor as pessoas. Meus registros sempre foram beijando os idosos abraçando rindo pegando no colo, mas nunca mostrei um ato que seja dando algo. Vai contra meus princípios.

Giovanni Dorival: Compreendo. “Ocultar a mão que dá”. Certo?

Devanir Ferreira: Sim! Meu pai nos ensinou.

Giovanni Dorival: Ótimo princípio. Te agradeço muito por se abrir aqui.

Devanir Ferreira: Obrigado!

Giovanni Dorival: Eu é quem agradeço!

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