Vereadores da capital aprovam Lei do Dia Municipal do Tereré
De origem pouco esclarecida, bebida tradicional do estado tem ganhado espaço nas novelas
Foi aprovada, na sessão ordinária desta quarta-feira (31) a criação do Dia Municipal do Tereré na capital. O projeto é do vereador Otávio Trad (PSD) e deverá ser celebrada todo 1º de março a partir do próximo ano. “O tereré já faz parte do nosso dia a dia, da nossa cultura. Seja ele com a família ou entre amigos. Nosso objetivo é fomentar essa cultura e a economia de Campo Grande”, justificou o parlamentar.
Tradicional dos sul-mato-grossenses e do Paraguai, a bebida gelada é feita com a erva mate. No estado, a sua cultura teve seu auge com o surgimento da Companhia Erva Matte Larangeira a partir do arrendamento de terras por Thomaz Larangeira por meio de uma concessão imperial como recompensa por serviços prestados durante a Guerra do Paraguai.
A primeira sede foi na cidade paraguaia de Concepción, em 1877, quando inicia a exploração de erva-mate. Mais tarde, a empresa foi transferida para o povoado de Porto Murtinho e, anos depois para Guaíra no estado do Paraná passando para a história como responsável pelo surgimento de ambas as cidades e também de Ponta Porã.
Conforme Isabel Cristina Martins Guillen, doutora em História pela UNICAMP, a Companhia Erva Matte Larangeira chegou a ter um lucro seis vezes superior à arrecadação de impostos do antigo Mato Grosso uno inteiro, mas sob constante acusação de explorar os imensos ervais nativos com um regime de trabalho análogo a escravidão, especialmente entre paraguaios e indígenas. “Empregou indiretamente milhares de trabalhadores arregimentados no Paraguai em sua grande maioria, e impôs nos ervais uma forma de trabalho baseado na escravidão por dívida”, relata Isabel em seu artigo “O trabalho de Sísifo ‘escravidão por dívida’ na indústria extrativa da erva-mate (Mato Grosso, 1890-1945)”.
Hoje, a bebida vem ganhando público nacional pelas novelas globais “Pantanal” e “Terra e Paixão”, mas sempre esteve incorporada na cultura sul-mato-grossense e possui o reconhecimento de patrimônio imaterial histórico e cultural de Mato Grosso do Sul conforme o decreto estadual 13.140, que reconhece o enraizamento do hábito de tomar tereré como meio de socialização e expressão cultural daqueles que pertence ao estado.
Ao falar sobre o projeto aprovado, Otávio Trad apontou caminhos produtivos para impulsionar a cultura regional e a economia na capital. “Cultura, fomento ao comerciante, ao consumidor, empreendedorismo fazem parte da pauta aqui em Campo Grande”, declarou.
A data, 1º de março, é uma homenagem ao término da guerra do Paraguai. Segundo alguns historiadores, o tereré teria sido inventado Durante a Guerra do Chaco e foi trazido ao estado pelo povo paraguaio, versão contestada por antropólogos como o doutor especialista em Antropologia com enfoque nas culturas e história dos povos indígenas e professor da UFMS, Victor Ferri Mauro. “Grande parte daquilo que valorizamos como cultura no nosso estado, inclusive o habito de tomar tereré, que se tornou um símbolo cultural de Mato Grosso do Sul, é um habito de origem indígena que pouca gente sabe disso”, esclareceu Victor em entrevista para o livro-reportagem “Belo Sul Mato Grosso: um percurso sobre arte e cultura em MS”.
Para Otávio Trad, entretanto, o estabelecimento da nova data comemorativa deve ser uma nova oportunidade para que os campo-grandenses tenham eventos com oportunidades de lazer e econômicos semelhantes ao Festival Municipal do Hambúrguer celebrada na capital durante a penúltima semana de maio de 2023.
O evento que surgiu da Lei 6.976/22, de autoria do vereador Clodoilson Pires (Podemos), que estabelece o dia 28 de maio como Dia Municipal do Hambúrguer, contou com mais de 40 mil hambúrgueres vendidos. Agora, com o estabelecimento do Dia Municipal do Tereré, Otávio Trad espera que ocorram eventos semelhantes com impactos positivos para o comércio e para os consumidores da bebida.“Nessa mesma esteira da criação da Semana do Hambúrguer foi criado o dia Municipal do Tereré que é uma bebida típica aqui de Campo Grande de Mato Grosso do Sul, e que nós temos o objetivo, também, de fomentar através da cultura, através do capital, através do empreendedorismo esse dia para que possa ficar marcado com vendas, com exposições, com apresentações. E, além disso fazendo com que o consumidor tenha condições de ter várias opções do tereré campo-grandense”, conclui o vereador.