Indígenas decidem não enterrar corpo de guarani kaiowá morto em conflito com a polícia até chegada do MPF
O corpo do guarani kaiowá Vito Fernandes, de 42 anos, morto na sexta-feira (24) durante confronto entre indígenas e policiais militares em uma propriedade rural em Amambai (MS) não será enterrado até que autoridades do Ministério Público Federal (MPF) estejam no local.
A decisão foi informada por Adalto Barbosa de Almeida, integrante da comissão Kaiua MS.
“Não vamos enterrar o corpo. Foi decidido esperar até amanhã a chegada de do Ministério Público Federal para que se chegue a uma decisão. Queremos enterrá-lo no local do conflito, que não é uma retomada, é uma reserva”, disse o Adalto.
Em nota, o Ministério Público informou que no sábado (25) expediu despacho determinando, com o caráter de urgência que o caso requer, providências em relação ao conflito registrado entre indígenas da aldeia Amambai, em Mato Grosso do Sul, e forças policiais locais.
Entre as providências está a realização de perícia antropológica na retomada Guapoy, a fim de que se verifique a eventual violação de direitos no local ou que seja a ele correlata ou conexa. A perícia será conduzida por analista em antropologia do MPF no período compreendido entre 28 de junho e 1º de julho.
Também foi determinada a requisição de informações aos órgãos e entidades direta e indiretamente envolvidos no conflito, a fim de apurar os fatos e prevenir, reprimir e punir possíveis delitos de atribuição/competência federal.
Órgãos e entidades oficiados têm o prazo de 72 horas para enviar ao MPF as informações solicitadas.
Entenda
O confronto entre indígenas e policiais ocorreu na madrugada de sexta-feira. Pelo menos sete indígenas ficaram feridos, além de Vitor Fernandes ter morrido. Três policiais militares também se feriram.
O conflito ocorreu devido à disputa de área vizinha a aldeia Amambai, a segunda maior do estado, com cerca de 7 mil moradores. Para os indígenas, as terras fazem parte do território Guapoy, que pertencia aos ancestrais dos povos originários e seria parte da reserva.
O coordenador do CIMI em Mato Grosso do Sul, Matias Benno, disse que os indígenas da etnia Guarani Kaiowá estão na região da fazenda onde ocorre o conflito há alguns dias e que entre quinta e sexta-feira (dias 23 e 24) fizeram o que chamam de “retomada” da área que consideram tradicional.
Após a “ocupação” sob a ótica dos indígenas, a Polícia Militar foi acionada, para combater, o que seria na visão da proprietária da terra, o grupo VT Brasil, uma “invasão”.
Segundo o secretário de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, disse ainda na sexta-feira (24), o conflito se iniciou porque quando indígenas atacaram policiais militares que foram acionados para “coibir uma invasão” e garantir a “segurança daqueles que estavam nas residências”. Videira alegou que a ida do Batalhão de Choque foi “necessária”.
“A Polícia Militar foi atender uma ocorrência grave de crime contra o patrimônio com risco de morte eminente, tanto que nossos policiais foram recebidos a tiros. Nós vamos manter o reforço em toda aquela região para evitar novos confrontos”, explicou o secretário.
“Quando o Batalhão de Choque chegou, ele foi recebido a tiros. Três policiais foram atingidos”, reforçou o secretário.
Policiais militares ainda estão na região de confronto.
* Por G1 MS