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Viagem épica pelo Pantanal completa 40 anos

Comitiva história deixou amplo legado artístico da cultura pantaneira além do documentário

Viagem musical feita pelos músicos Almir Sater, Paulo Simões e Zé Gomes (in memorian) pelo Pantanal, o histórico documentário da Comitiva Esperança faz 40 anos em 2023. Nesta reportagem especial, o MS Ativo traz detalhes sobre essa viagem épica.

“Comitiva Esperança: uma viagem ao interior do Pantanal” surgiu de um desafio. Estavam Paulinho, Almir e Zé Gomes na fazenda de um amigo, na região da Nhecolândia, conversando sobre o Pantanal e suas maravilhas. Com o ar bonachão dos pantaneiros, o proprietário da fazenda disse que o trio só conheceria realmente aquela região acompanhando uma comitiva boiadeira. E acrescentou: “Só vale se viajarem como eles, em lombo de burro”. Esse trecho da conversa inclusive foi incluído na letra de “Estradeiro”: “Em carro de boi, litorina e lombo de burro baguá…”. Almir perguntou se ele emprestaria uns burros, que eles fariam a viagem. Ele concordou, em clima de aposta e não botando muita fé na conversa dos três cabeludos.

Daí a ideia foi tomando forma e acabou virando projeto, financiado pelo Governo do Estado, via Fundação de Cultura: ver o Pantanal pelo prisma dos seus habitantes, adotando seus meios de transporte históricos: mula, cavalo, carro de boi e barco. Ao trio juntou-se os cineastas Wagner Carvalho e Walter Rogério e o jornalista, crítico e pesquisador Zuza Homem de Mello, além do fotógrafo Raimundo Alves Filho e entre novembro de 1983 e fevereiro de 1984 a comitiva se pôs na estrada, percorrendo o Paiaguás, Nhecolândia, Piquiri, São Lourenço e Abobral. Ouvindo moradores, peões de comitiva, trovadores, mascates e outros representantes da nossa música, em momentos festivos, em que retribuíam os pousos nas fazendas tocando. Segundo Almir foram 90 bailes, exatamente os dias de duração da viajem. Foi para as telas em 1985.

Da viagem, além de “Estradeiro”, resultaram a antológica “Comitiva Esperança” e “Capim de Ribanceira” e muitos instrumentais. Conhecido nacionalmente, o documentário faz parte do acervo do Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo. Das cenas registradas no documentário, o Pantanal não mudou muito. Em um lugar onde não existe fome, como lá, as pessoas são felizes, recebem bem os viajantes (que são uma novidade) e Almir de vez em quando (o cantor possui uma fazenda na região, mas reside de fato em São Paulo) tira uns dias para dividir com os pássaros e outros bichos e com o som muito próprio das matas os acordes das suas violas. Bom de prosa, também de vez em quando recebe vistas ilustres, como o governador Eduardo Riedel, que lá esteve há cerca de 20 dias atrás.

Quem conhece o carisma de Almir, a simplicidade e a independência do chamado “mercado” das gravadoras, que impõem goela abaixo muito lixo sonoro, sabe que boa parte do seu estilo veio da convivência com a ‘peãozada’, que já existia e se mantem até hoje. Do trio de músicos que fez a viagem, partiu para tocar no céu o violinista Zé Gomes. Paulinho (e agora também Renato Teixeira) continua sendo a “metade” de Almir, compondo com ele a maioria das músicas lançadas pelo violeiro. Quem ainda não viu o documentário, disponível no Youtube, fica a dica: vale a pena.

 

Fonte: Rozemberg Marques/MS Ativo

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