É Vermelho-Brasa
O nosso coração, que bate cá no peito
Sob o refluxo pandego da bateria
O sangue que circula em nossas veias
Nas artérias estendidas dessas metrópoles
No ritmo da Sapucaí em carnaval
No compasso ao redor da fogueira
Que celebra São João e São Pedro
Em Campina Grande ou Ivinhema
No suor que escorre de nossa têmpora
Durante as horas de trabalho braçal
Nas manifestações que precedem
O banho de São João-Xangô
Nas águas túmidas e férteis do Paraguai
Rezas para o santo e para o orixá
Diversidade de um povo em comunhão
É vermelho, ah, é vermelho!
Esse riso branco que contrai as maçãs
Da moça em festa dançando a dança folclórica
O carimbó, a catira, a katchaka paraguaia
É vermelha a mão viril do camponês
Sob o rútilo esparso desse sol daqui
Quando empunha o bastião
No cortejo a cavalo dos Mateus
Celebrando através das décadas
A Festa do Divino no Corpus Christie
É vermelha a língua que sibila
De permeio aos lábios rubros
Num canto mavioso desses sertões
Sob a nênia sublime da viola-de-cocho
Vermelha ainda é a pele do ator
Que transpira sob a carga dramática
Na cena que se desenrola em êxtase
Nos palcos opíparos e labregos deste país
Vermelha é a pele da professorinha
Que caminha longes distâncias
Em busca do aluno perdido
Futuro e esperança da sociedade
E ainda são vermelhos esses olhos
Da mãe que pariu um rebento
Enchendo o mundo a seu redor de luz
Como também são vermelhos outros olhos
Da mãe inconsolável sob a desdita atroz
Do filho morto, de roldão
Menino de engenho, nascido na mansarda
Que obrigado, desde cedo
Ao trabalho nas carvoarias
A pele sempre nesse vermelho-brasa
Queimada, sol-a-sol, sem descanso
Sem jamais desfrutar, nessa terra úbere
Das riquezas de nossa cultura
E o homem pleno que ela produz
Extraído do livro “Sonhos Perdidos De Um País Vermelho-Brasa”
Pingback: Da Pré-História Ao Banho De São João de Corumbá – Notícias do Pantanal