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Professora Eloir Matos e a necessidade de produzir livros de MS para as crianças

Pedagoga e autora de livros infantis fala sobre a carreira, e a importância da leitura na educação

Nascida na cidade paranaense de Capanema, Eloir Matos dos Santos veio para Mato Grosso do Sul há três décadas. Terminou o ensino escolar e, em 1996, começou sua graduação em Pedagogia. Em 2008, assumiu o cargo de professora da capital onde permanece ativa. Percebendo a necessidade e a ausência de literatura infantil sobre o MS na prática pedagógica, deu início a nova carreira de escritora. Hoje, com 5 livros publicados, a pedagoga e escritora infantil fala sobre seu trabalho e a importância de se criar o hábito de leitura desde a infância.

Escritora e pedagoga, Eloir se preocupa com a necessidade de literatura regional para crianças na escola. Foto: Arquivo pessoal

Giovanni Dorival: Oi, Eloir. Tudo bem?

Eloir Matos: Oi! Tudo e com você?

Giovanni Dorival: Também, obrigado! Podemos fazer nossa entrevista?

Eloir Matos: Podemos começar

Giovanni Dorival: Maravilha! Você nasceu no Paraná, certo?

Eloir Matos: Sim. Capanema.

Giovanni Dorival: Veio para MS há muito tempo?

Eloir Matos: 34 anos.

Giovanni Dorival: Completamente sul-mato-grossense? (Risos).

Eloir Matos: Exatamente!

Giovanni Dorival: Você veio com sua família, Eloir?

Eloir Matos: Sim. Meus irmãos vieram primeiro para trabalhar com transporte em seguida veio minha mãe e quando terminei o ano letivo, eu vim.

Giovanni Dorival: E aqui você já entrou direto na faculdade?

Eloir Matos: Terminei o ensino médio. Em 96 entrei na faculdade.

Giovanni Dorival: Entendi. E tornou-se pedagoga.

Eloir Matos: Pedagoga!

Giovanni Dorival: Depois você procurou mais formações ou parou?

Eloir Matos: Quando terminei a faculdade, fui convidada a trabalhar numa transportadora que eu já tinha trabalhado. E, posteriormente, essa transportadora mudou para Uberlândia/MG. Fez uma proposta muito boa e mudei junto. Fiquei 5 anos em Uberlândia.

Giovanni Dorival: Um bom tempo!

Eloir Matos: Resolvi voltar para Campo Grande para ficar próximo da família. Eu tinha casado e junto com o marido montamos um restaurante. Daí me separei em 2007 e vendi o restaurante. Saiu concurso para professor no início de 2008. Passei e, em julho desse mesmo ano já estava dando aula.

Giovanni Dorival: Entendi. Vocês tiveram filhos?

Eloir Matos: Não.

Giovanni Dorival: Certo. Em meados de 1998 você teve seu primeiro contato com os trabalhos do Manoel de Barros, como foi?

Eloir Matos: Uma amiga da faculdade trabalhava na revista Executivo que existia aqui em Campo Grande. A Iracema Sampaio, dona da revista fez um livro com imagens e poesias de Manoel de Barros. Eu ganhei esse livro dessa minha amiga. Foi então que conheci o trabalho dele.

Giovanni Dorival: Se apaixonou pela escrita do nosso Maneco?

Eloir Matos: Então, recebi uma encomenda para uma antologia, daí fiz essa poesia que fala de Manoel de Barros. Devido a uns imprevistos, essa antologia foi transferida e resolvi publicar o livro.

Giovanni Dorival: Compreendo. Sua participação no livro “Era Uma Vez”, lançado em 2019 despertou o gosto pela escrita ou esse gosto já existia?

Eloir Matos: Acredito que estava adormecido dentro de mim (risos). Porém despertou na pandemia, que foi o período que fiz a maioria dos livros.

Giovanni Dorival: Como foi dar início a essa nova vertente da sua vida?

Eloir Matos: Foi meio que por acaso. O primeiro livro fiz para trabalhar um projeto da escola e recebi incentivo dos amigos para publicar. Depois veio convite para a antologia. Daí foi surgindo os livros. E com a pandemia, o período de isolamento, comecei a pensar nas dificuldades que eu tinha para encontrar material para trabalhar na alfabetização dentro dos componentes curriculares do município. Então, aproveitei o isolamento para criar parte do material que eu precisava para trabalhar. Essa necessidade do material para essa série foi o maior fator determinante para eu escrever os livros.

Poemas e temática regional compõe a literatura de Eloir Matos. Foto: Arquivo pessoal

Giovanni Dorival: Esses componentes seriam essa temática da fauna e da flora que você aborda nos livros?

Eloir Matos: Um material regional que não encontrávamos para apresentar para os alunos. Como temos a riqueza do pantanal não foi difícil pensar em escrever. Mas falar de Campo Grande também foi muito propício para casar com às necessidades existentes desse material. Porque existem livros que falam de Campo Grande, mas não são voltados para as crianças. Foi aí que pensei nessa produção, aproveitando que eu também já realizava as ilustrações.

Giovanni Dorival: O conto Chapeuzinho Cor-de-Rosa no Pantanal publicado em 2019 seria um exemplo, Eloir?

Eloir Matos: Sim. Queria algo daqui. Então essa versão pantaneira veio. Já que é um clássico que toda criança gosta.

Giovanni Dorival: Bacana. Preciso perguntar: por quê a Chapeuzinho pantaneira é Cor-de-Rosa?

Eloir Matos: Porque principalmente as meninas crianças gostam da cor rosa. E temos os ipês também.

Giovanni Dorival: Verdade. O Manoel de Barros, e outros autores sul-mato-grossense te serviram de inspiração?

Eloir Matos: Na realidade não me inspirei nos autores daqui, mas nos clássicos. Lia desde criança. Fui conhecer os autores daqui, faz pouco tempo.

Giovanni Dorival: Compreendo. Mas, nenhum deles lhe inspirou, então?

Eloir Matos: Não conhecia o material deles, só Manoel, mas a linguagem dele é melhor para trabalhar com os alunos maiores. Precisava de uma linguagem simples, livros realmente voltados para a alfabetização.

Giovanni Dorival: Entendi. Poderia falar como a leitura se alia à Pedagogia?

Eloir Matos: Tenho só um livro de contos, o restante são poesias. A poesia facilita a memorização, principalmente as estrofes curtas, assim a criança memoriza para depois escrever. As rimas e versos facilitam a memorização. Faz a crianças pensar sobre a escrita. Sons e letras.

Giovanni Dorival: E além da parte da memorização, há uma direção educativa no sentido de preservar a fauna e flora?

Eloir Matos: Sim. As posturas adotadas pelas personagens é o que se chama politicamente correto.

Giovanni Dorival: Certo. Bem, a pouco você esclareceu que começou esse projeto para suprir uma carência do ensino em fases iniciais. Existe algum interesse por parte da Secretaria de Educação Municipal, a Semed, em ampliar esse trabalho?

Eloir Matos: Não fui atrás disso ainda. Mas ano passado foi votado pelos vereadores que as escolas deveriam adotar livros de autores regionais. Acredito que esse ano devem adquirir. Essa semana, num grupo de escritores que participo, solicitaram uma lista dos livros para passar para a Semed.

Giovanni Dorival: Ok. Mas, falando sobre seus livros. Seria bom que estivessem disponíveis para professores de outras escolas?

Eloir Matos: Exatamente! Eu tenho que ir atrás de alguns lugares e apresentar meus livros.

Giovanni Dorival: Pode descrever um pouquinho da dinâmica do seu trabalho usando esses livros como ferramenta de educação?

Eloir Matos: Esses livros podem ser usados em todas as séries dos anos iniciais. Trabalhar com listas: personagens, animais, frutas da região. Tem a cantiga da Chapeuzinho que também pode cantar e registrar. As estrofes podem ser escritas e desenhadas. Conhecer os pontos turísticos de Campo Grande. Listar esses lugares. Marcar as palavras que rimam nas estrofes.

Giovanni Dorival: Existe também uma educação de identidade cultural do estado?

Eloir Matos: Sim. Falo que eles precisam conhecer para preservar. A questão das queimadas no pantanal. Conhecer os animais que fazem parte da fauna.

Giovanni Dorival: Você também pensa em trabalhar temas como a importância de Tia Eva, o consumo do tereré, o Banho de São João e a viola de cocho?

Eloir Matos: Não pensei nisso. Mas futuramente quem sabe?!

Giovanni Dorival: Certo. Você sempre foi leitora voraz?

Eloir Matos: Não, mas contos sempre me encantaram desde criança.

Giovanni Dorival: Entendi. O que é preciso para se tornar uma escritora, Eloir?

Eloir Matos: (Risos). Ter dom ou necessidade de material, que é o meu caso.

Giovanni Dorival: (Risos). Me parece que você tem os dois.

Eloir Matos: Sinceramente, nunca imaginei que um dia eu seria escritora. Aconteceu. E estou muito feliz com isso. Até porque consigo fazer as ilustrações também.

Giovanni Dorival: É uma realização importante?

Eloir Matos: Sim, gosto muito do material que produzi.

Giovanni Dorival: E essa parte da ilustração? Você sempre desenhou?

Eloir Matos: Não. Mas, sempre gostei. Os desenhos foram melhorando com a prática. Chapeuzinho foi o primeiro livro. Você vai perceber como muda nos próximos livros.

Giovanni Dorival: Certo. Bem. A pouco você me disse que lia os clássicos. Alguém em especial?

Além de escrever, a própria autora ilustra seus livros. Foto: Arquivo pessoal

Eloir Matos: Não. Mas, Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio, Branca de Neve, Rapunzel e etc.

Giovanni Dorival: Entendi. O Brasil tem uma população com pouco hábito de leitura. Conforme a 5ª “Retratos da leitura no Brasil”, divulgado em 2022, cerca de 52% dos brasileiros têm esse hábito e, apesar de parecer positivo o país perdeu cerca de 4,6 milhões de leitores nos últimos anos. Em uma comparação média com outros países, em especial, os mais desenvolvidos, o brasileiro costuma ler somente cerca de quatro livros por ano, enquanto o canadense lê 12, o que indica um índice de leitura bem abaixo da média.

Eloir Matos: Verdade.

Giovanni Dorival: Você acredita que levar a leitura para as crianças pode mudar essa realidade?

Eloir Matos: Importante é apresentar os livros e ter o hábito de ler. Principalmente na escola, porque em casa essa criança pode não ter o incentivo para a leitura.

Giovanni Dorival: Você acredita, então, que boa parte da carência de leitores no país é reflexo de pais que não leem?

Eloir Matos: É complicado afirmar, mas uma criança que cresce num ambiente de leitores tem uma tendência muito grande de ser leitor também, outras adquirem esse hábito na escola.

Giovanni Dorival: Seria possível que os pais pudessem apresentar a leitura como algo prazeroso durante as férias, Eloir?

Eloir Matos: Com certeza. Ter o hábito de ler para as crianças desperta neles a curiosidade, estimula a imaginação.

Giovanni Dorival: Você teria alguma dica para esses pais introduzir a leitura para as crianças?

Eloir Matos: Ler diariamente uma história para uma criança antes de dormir já seria o começo.

Giovanni Dorival: Livros com funções didáticas, como os seus, seriam também indicados para essa interação durante as férias?

Eloir Matos: Sim. As crianças pequenas gostam dos meus livros. São coloridos.

Giovanni Dorival: As figurinhas e a possibilidade de colorir são mais atraentes, não é?

Eloir Matos: Os livros são coloridos já. O livro para colorir eu ainda não lancei. Mas as crianças que já estão sendo alfabetizadas podem reproduzir os desenhos.

Giovanni Dorival: Entendi. Pedagogicamente, qual é a importância de se criar o hábito da leitura desde criança?

Para a escritora pedagoga, a leitura nas escolas é o caminho para se criar novos leitores no país. Foto: Arquivo pessoal.

Eloir Matos: Porque aquilo que é motivado e incentivado é o que vai ficar. Se a criança tiver esse hábito de ler, vai ampliar o conhecimento, a visão de mundo. Vai falar e escrever melhor.

Giovanni Dorival: A para a vida da pessoa adulta? Que impactos pode trazer a leitura praticada desde a infância?

Eloir Matos: Melhora o vocabulário, o conhecimento e a escrita.

Giovanni Dorival: No próximo dia 25 é celebrado o Dia Nacional do Escritor. Que importância tem a existência de escritores para a nossa sociedade?

Eloir Matos: Faz toda diferença! Produzir e criar material que pode informar e melhorar a vida dos outros em termo de conhecimento é maravilhoso!

Giovanni Dorival: E para o Mato Grosso do Sul, qual a importância de termos e valorizarmos nossos próprios escritores?

Eloir Matos: O incentivo aos escritores regionais é fundamental para levarmos a história do estado para mais longe. Apresentar a riqueza da fauna é fundamental para a valorização da região, porque só valorizamos aquilo que conhecemos.

Giovanni Dorival: Certo. E, como você se sente em participar das responsabilidades de ser uma escritora sul-mato-grossense?

Eloir Matos: Me sinto feliz! Talvez eu não tenha exatamente a dimensão disso, porque estou no início da vida de escritora e não tenho a vivência dessa nova função em minha vida.

Giovanni Dorival: São quantos livros publicados até agora, Eloir?

Eloir Matos: Cinco livros e uma participação numa antologia. Mas tenho outros livros prontos para serem publicados. Esse ano pretendo lançar mais um.

Giovanni Dorival: Quantos estão para “sair do forno”?

Eloir Matos: Para fazer uma coleção regional, tem mais um. Mas quero lançar um de atividades e para colorir da Chapeuzinho. Para fechar a coleção regional.

Giovanni Dorival: Entendi. Que sonhos literários tinha a Eloir paranaense?

Eloir Matos: Sinceramente eu não fiquei sonhando, quando senti a necessidade de material para trabalhar com meus alunos, já comecei a fazer e tudo foi acontecendo. Nunca pensei ou sonhei ser escritora, simplesmente aconteceu.

Giovanni Dorival: Certo, mas quem era a Eloir antes de vir para MS e o que ela pensaria se soubesse que a Eloir sul-mato-grossense se tornaria uma escritora?

Eloir Matos: Uma jovem que pensava estudar artes, passar num concurso e viajar pelo mundo. Jamais a Eloir pensou na possibilidade de se tornar escritora. Simplesmente aconteceu. E é um acontecimento que me deixa muito feliz!

Giovanni Dorival: E, hoje, além dessa pessoa extremamente prática que identificou e tratou de solucionar um problema das práxis pedagógicas no trabalho, com criatividade e paixão, quem é a Eloir sul-mato-grossense?

Incentivo dos amigos e carência de material nas escolas levaram Eloir a escrever. Foto: Arquivo pessoal

Eloir Matos: Hoje eu tenho um olhar mais carinhoso para as riquezas da cultura sul-mato-grossense. Pois consegui transferir esse sentimento nos meus livros e me sinto parte desse estado.

Giovanni Dorival: Um belo caminho! Te agradeço muito, Eloir!

Eloir Matos: Eu que agradeço a oportunidade de falar do meu trabalho!

Giovanni Dorival: Maravilha! Muito obrigado!

One thought on “Professora Eloir Matos e a necessidade de produzir livros de MS para as crianças

  • Denise Maria Calazans Tavares Parreiras

    Fico feliz em poder acompanhar as produções da Eloir e desejo que muitos outros trabalhos surjam e fiquem gravado na memória de cada leitor.

    Resposta

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