Lisio Lili

KUTI ÛTI?

Há poucos dias, nós Povos Indígenas do Brasil, pudemos assistir com alegria discurso da jovem da Txai Surui que dentre outras afirmações que fez por ocasião da 26ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da ONU em Glasgow na Escócia as principais autoridades do mundo, recolocou com bastante ênfase o principal papel existencial desses primeiros habitantes.

É que todas aquelas receitas ditas tecnológicas e avançadas que essas nações e seus lideres aviaram ao Planeta, as quais denominou de avançadas e modernas não conseguem mais responder a agonia de um Globo Terrestre desgovernado, por isso incerto, complexo e ambíguo.

A grande verdade é que tais potencias e seus governantes pensavam que bastavam se organizar e enfeixar poderes e pronto, e ali acomodados nos seus santuários, apertar botões e num passe de magicas verem os seus desejos imperiais realizados.

Nessa senda imperialista traçada, foram dispensando principalmente as partes humanas da existência, dentre estes dispensáveis os povos indígenas com suas técnicas, conhecimentos, ciências, tecnologias, vivencias e experiências. “Cheios de entendimentos” não cuidaram sequer de ouvi-los para entender quais técnicas ou ciências adotavam para responder a existência surpreendente desses povos naquelas terras consideradas por eles de hostis e inabitáveis.

Quem não se lembra, logo nos primórdios do contato para negar existência desses primeiros habitantes “pensou” que haviam aportado na Índia e os designou de índios somente porque não admitia a existência desses primeiros usurpando desavergonhadamente a primogenitura existencial.

Esse tratamento desumanizador de pessoa dispensado aos povos indígenas se transformou numa ordem mundial e aqueles primórdios que sabiam viver sofreram as mais vis designações tais como selvagens somente porque queriam ser o que sempre foram.

Quando ainda Terra de Santa Cruz a matemática da perda foi genocida, agora no Brasil e no mundo contemporâneo o pseudo civilização e desenvolvimento assiste e destina para as próximas gerações, se ainda houver, um mundo esquálido e moribundo.

Reconhecidamente o mundo sabe o que estes países poderosos não tem apreço ao Planeta e a Txai Surui num discurso curto mas enfático usou palavras duras como quando lhes disse exigindo que parassem de “emitir promessas mentirosas e irresponsáveis e vamos acabar com poluição de palavras vazias”.

Na língua terena o KUTI ÛTI designa a nossa função no Planeta Terra, todos os expedientes que o Estado Nacional se auxiliou tais como genocídio, etnocídio, tutela, discriminação, preconceito, adjetivação, não foram capazes de afastar-nos da nossa função principal que é prestar serviços ambientais para continuidade da existência da VIDA E DA TERRA.

LISIO LILI – terena, xûmono e agente cultural
(67) 991418032

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